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segunda-feira, setembro 30, 2013

Especial: Adeus Breaking Bad | Heisenberg e a nova televisão

Fonte: Omelete

Como a criação de Vince Gilligan tornou-se um novo marco no formato das séries

A "nova onda" da televisão dos EUA começou com A Família Soprano. A série da HBO inaugurou uma nova era de qualidade no formato seriado, seguida por The Wire, da mesma emissora. A rede AMC entendeu a fórmula e mostrou-se à altura trazendo ao público Mad MenBreaking Bad. Juntas, essas quatro brilhantes atrações - melhores do que o grosso da produção cinematográfica dos últimos anos nos EUA - formam os alicerces de um futuro empolgante para o entretenimento televisivo.
Com o fim de Breaking Bad - e o último ano de Mad Menaproximando-se - fica um novo paradigma do que se fazer em séries.
A criação de Vince Gilligan, que inicialmente parecia uma versão mais realista e menos engraçada de Weeds, em apenas um episódio já mostrou a que veio em 2008. Não precisava ser crítico ou especialista para sentir o anseio por qualidade técnica acima da média em Breaking Bad. Com uma fotografia saturada, fazendo o público sentir na pele o calor da desolada Albuquerque, no Novo México, valorizada pela câmera que frequentemente brincou com primeiras pessoas e ângulos inusitados, grandes angulares e pontos-de-vista impossíveis, a série encontrou seu estilo - e manteve-se nele - logo de início.
No entanto, como os demais integrantes do "quarteto fantástico" da TV, foi com o roteiro que Breaking Bad fez história. Todas as séries tiveram como tema central a moralidade, fazendo de seus protagonistas anti-heróis, mas Walter White (Bryan Cranston) é o único que começou igual aos outros mas foi desenvolvido em um monstro completamente distinto.
Se Don Draper e Tony Soprano podem ser perdoados ao observarmos o contexto que estão inseridos (os anos 60 e o código da Omertà), o mesmo se aplica ao Sr. White, o pacato professor de química do início da série. Morrendo de câncer, sem esperança de tratamento por conta do implacável sistema de saúde dos EUA e amargando a derrocada do sonho americano depois de deixar para trás uma empresa que se tornaria bilionária, o Sr. White resolve tomar as rédeas do seu destino. Começa a "cozinhar" metanfetamina ao lado de um ex-aluno junkie, Jesse Pinkman (Aaron Paul), e se insere no mundo do crime. Se o governo não vai ajudá-lo, que mal há em defender seus próprios interesses em nome da vida e da família? Está perdoado, Sr. White.
Segue então a inovação de Breaking Bad. Conforme as temporadas foram se desenvolvendo, o professor genial virou um mafioso. Heisenberg, com seus óculos escuros e chapéu, tomou o lugar do homem de bem.
Enquanto Don Draper tem o sex appeal que torna perdoáveis seus excessos, enquanto Tony Soprano é o urso protetor carismático, que come sanduíches entre seus assassinatos e sofre com estresse, enquanto os personagens de The Wire são realistas em seus tons de cinza, Heisenberg é um crápula único.
Walter White encara suas circunstâncias e opta conscientemente pela sua mudança. Escolhe tornar-se mau. Em seu livre-arbítrio torna-se Heisenberg.
Quando o criminoso aflora, o professor de química é deixado para trás. Quando ele embala sua filha, o faz com as mãos sujas de sangue. Ele opta conscientemente por tornar-se um monstro. Sua desculpa é que "tudo é pela família", mas ao longo dos anos nota-se que é por prazer, por satisfação pessoal. Heisenberg é o macho alfa, outrora desacreditado e deixado para trás, que agora corre à frente da matilha, enfrentando os outros líderes. A última temporada é brilhante em esclarecer isso, em remover do personagem suas muletas e escancarar o que estava dolorosamente óbvio.
Assim, Vince Gilligan faz história na televisão ao usar o único elemento que efetivamente a distingue do cinema, a duração e serialização, de forma a explorar e alterar dramaticamente seu protagonista. Até o gênero do programa mudou, perdendo em suas últimas temporadas quase todo o humor. Em contraste, Pinkman segue quase invariável e e os cenários frequentemente são reaproveitados, quase como um lembrete de como era a televisão antes de Breaking Bad.
O gerúndio no título já alertava desde o início que esse era o objetivo do programa, a construção do mal, a passagem para o outro espectro da moralidade. Mas, acostumados com décadas de séries em que personagens passam temporadas depois de temporadas sendo eles mesmos, todos optamos em não ver isso. A televisão nunca mais será a mesma.

Especial: Criador celebra trajetória de Breaking Bad


A melhor série de TV de todos os tempos chega ao fim na noite desde domingo (29/9) nos EUA. “Breaking Bad” 

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surpreendeu do começo ao fim. Começou sem pretensões em 2008, com uma temporada de seis episódios num canal que dava seus primeiros passos com conteúdo próprio. Mas as pessoas começaram a comentar. O humor negro, a violência, o mau caratismo. A atração se tornou cult. Tinha uma audiência de 1,2 milhões. Passou a 2 milhões. Era um “sucesso” no canal pago AMC, que só tinha “Mad Men” na mesma toada.
Cinco anos depois, essa audiência cresceu 500%. Fãs estão organizando festas para assistirem juntos ao final. Nesse processo, houve uma mudança de percepção que tende a afetar o futuro das séries. O que era “muito sombrio e violento” para ser considerado palatável se tornou “espetacularmente bem escrito e impressionantemente bem interpretado”. A coroação foi o Emmy de Melhor Série, conquistado na véspera de sua despedida.
5f6941d2-0bec-11e3-_444344bSegundo o criador Vince Gilligan, a culpa é da Netflix, das redes sociais e da internet. Todo mundo com uma conta na Netflix aparentemente encarou maratonas com episódios da série para ver do que é que tanto falavam no Twitter e no Facebook. E Gilligan soube reconhecer, em seu agradecimento durante o Emmy. “Eu sindo que a Netflix nos manteve no ar. Não acho que nossa série teria durado além da 2ª temporada se não fosse por video streaming, social media e a internet. Esta é uma nova era e tivemos sorte de nos beneficiar dessas inovações tecnológicas”, ele discursou.
Claro que todos esses fatores apenas alimentam o interesse por bom conteúdo. Gilligan é modesto ao afirmar que não é o gênio que a mídia agora quer consagrar. Assediado pela imprensa para falar do desfecho da série, ele faz questão de compartilhar o mérito com a equipe, “vários escritores, diretores e atores fantásticos”.
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O criador de “Breaking Bad” é franco em admitir que a série tomou rumos que ele não previa. E que, ao longo do percurso, mudou de ideia sobre muitas coisas que pretendia fazer, quando a criou. “Eu achava que Jesse Pinkman [Aaron Paul] deveria morrer no final da 1ª temporada”, admite. “Mas eu também achava que a história só duraria até a 3ª temporada. Ela se tornou muito mais sombria e rica que eu jamais poderia prever”, avalia. “Mas se não fosse pelo talento natural de Bryan Cranston, as pessoas não ficariam tão interessadas em acompanhar essa história por tanto tempo”, completa.
Cranston, que era considerado um ator de comédias (estrelou “Malcolm in the Middle”), ganhou três Emmys de Melhor Ator de Série Dramática por seu retrato de Walter White, um professor de química que, ao ser diagnosticado com câncer, resolve produzir metanfetamina para deixar algum dinheiro para sua família quando morrer. Mas Walt se mostra duro de matar, ambicioso e impiedoso, enquanto seu produto se revela a droga mais pura do mercado, despertando o interesse do tráfico internacional.O ator diz que foi “Mad Men” que o convenceu a aceitar o papel. “Walter White era 
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completamente diferente não só de tudo o que eu tinha feito, mas de tudo que havia sido feito na TV até então”, ele contou, no começo da produção. “Tive receio, claro. Se a série não tivesse apoio do canal, não iria além dos primeiros episódios. Ela precisaria de dedicação. Mas quando estava pronto para recusar o papel, os executivos do AMC me enviaram um pacote com capítulos de ‘Mad Men’, com uma nota dizendo: ‘É isto que queremos fazer no canal’. Assisti, de boca aberta, e topei a aventura”.
Agora, a aventura termina. Para quem considera prematuro, especialmente no momento em que a febre “Breaking Bad” atinge pico, seu criador responde com a lembrança do final de “Arquivo X”, série em que começou sua carreira de roteirista. “A gente queria continuar, mas até os fãs sabiam que ‘Arquivo X’ tinha durado mais do que devia. E eu não quero que isso aconteça com a minha série”, ele apontou, na maratona de entrevistas para a imprensa americana na semana passada.Gilligan diz que, ao contrário da maioria, é fã do final ambíguo da “Família Soprano”, mas, para alívio dos fãs, se define “mais como um cara de finais 
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definitivos”.
Ele conta que, embora soubesse como a trajetória de Walt terminaria, foi apenas na sala de roteiristas, quando cada personagem teve seu destino discutido, na reta final da produção, que os últimos episódios ganharam seus contornos. “Minhas duas maiores preocupações eram Skyler [Anna Gunn] e Jesse [Aaron Paul]. O que os faria se voltar contra Walt e o que aconteceria com os dois depois disso”, Gilligan revelou.A decisão foi não deixar os confrontos para o último minuto. E isto fez do 
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antepenúltimo episódio, intitulado “Ozymandias”, o clímax da série. Gilligan diz que é “o melhor episódio que tivemos e teremos”. E nem foi ele quem escreveu. Os créditos são de Moira Walley-Beckett e a direção foi assinada pelo cineasta Rian Johnson, o talento por trás da sci-fi “Looper” (2012). “Geralmente, um episódio tem uma cena grandiosa, sobre a qual dedicamos mais atenção, mas, do jeito como Moira escreveu, cada cena tinha enorme impacto”, refletiu Johnson, após a exibição.
Seguindo-se às cenas atordoantes de traição, morte e tortura (aludida), o penúltimo episódio pareceu um epílogo, admitiu o roteirista, diretor e produtor Peter Gould, que assinou e dirigiu a trama de “Granite State”. “Não dava para ir acelerando cada vez mais”, ele ponderou, em entrevista ao site The Hollywood Reporter. O objetivo era mostrar Walt sob o peso dos últimos acontecimentos: impotente, isolado, abandonado por todos os que ama. Em suma, tentar fazer com que o público voltasse a simpatizar com ele, mesmo após as coisas terríveis que o viu fazer.Para o escritor, foi um episódio especial, porque foi “sobre 
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consequências”. “Walt chega nesse beco sem saída, onde nada do que fez trouxe a estabilidade financeira que esperava deixar para sua família. Ao contrário, os deixou pior que antes”, descreve. “Queríamos que o personagem sofresse de uma forma real, para que o público voltasse a simpatizar um pouco com ele. Por isso, o sentimento de derrota, a dor, o desprezo e a sensação de ter perdido tudo o que considerava importante”.
O que resta a Walt é vingança. Uma trilha, segundo Gilligan, que só tomou forma após o pedido de um fã especial, um telespectador de 16 anos com câncer terminal. A família de Kevin Cordasco procurou Cranston para que ele atendesse o último desejo do menino e fosse conhecê-lo. O ator ficou comovido com o conhecimento do jovem sobre a série e impressionado com a positividade com que enfrentava sua situação. Assim, convocou outros integrantes do elenco a visitá-lo. Inclusive Vince Gilligan.
“A certa altura, eu lhe perguntei o que gostaria de ver no final da série”, contou Gilligan, sobre sua visita. E a resposta o surpreendeu
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O menino queria saber o que acontecia com Gretchen e Elliott, os antigos sócios de Walt na empresa Grey Matter, que serviram de álibi para o dinheiro de seu tratamento médico. Personagens que Gilligan tinha esquecido e sobre os quais não se falava desde a 2ª temporada. “Eu levei o seu questionamento para uma reunião com os roteiristas e isso abriu uma nova possibilidade para o desfecho, que não teríamos se Kevin não os tivesse mencionado”, acrescenta.
O resultado foi introduzido no penúltimo episódio. Uma entrevista do casal menosprezando a contribuição de Walt, agora um criminoso procurado, em sua empresa bilionária. Uma cena vista na TV de um bar pelo derrotado Walt, enquanto espera a polícia vir prendê-lo ou dar logo um fim na sua vida miserável. E que vira a motivação que ele precisa para sair do buraco em que se meteu e reagir. “Falar mais seria entregar o final”, resumiu Gould, sobre a participação dos dois personagens.
Gilligan, porém, quis salientar a 
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contribuição do fã número 1 de “Breaking Bad”, até apontando o rumo do último episódio, algo que reluta em fazer, para homenagear o responsável por sua inspiração. Kevin Cordasco morreu em março.
Questionado sobre se haveria chance de redenção para Walt nos últimos minutos, ele afirma que iria contra tudo o que foi feito até então. “Como roteiristas, não temos a intenção de redimir ou condenar ninguém, apenas contar a melhor história possível, considerando a trajetória dos personagens. Mas como Saul Goodman [Bob Odenkirk] diria, ironicamente, Walt está a dois milagres de conseguir virar santo. Ou seja, por tudo o que fez nos 61 episódios anteriores, nada poderia redimi-lo. Mas isto não significa que ele vá sair de cena numa nuvem sulfurosa”.
Escritor e diretor de “Felina”, o final da série, Gilligan admite ter sentido a pressão para entregar um desfecho que não arruinasse a 
walt-sitting-1379629686experiência de quem acompanhou toda a trajetória de Walt. “Mas depois de tudo filmado e editado, boa parte do peso foi embora”, explica. “Já terminamos faz seis meses. E acredito que é o fim que a série precisava. Acredito que fizemos justiça à série. Suspeito que algumas pessoas prefeririam outro fim, porque é impossível agradar a todos, como sabemos, mas me sinto satisfeito com o que fizermos.”
“Tudo que é ruim termina”, diz o slogan da temporada final, referindo-se à maldade de Walter White. Infelizmente, o que é bom também, e a TV nunca teve nada tão bom quanto “Breaking Bad”.
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